CADEIRA 18: Carlos Justiniano Ribeiro Chagas
Cadeira 18 - DR. CARLOS JUSTINIANO RIBEIRO CHAGAS
(1879-1934)
Nasceu na Fazenda Bom Retiro, no município de Oliveira, Minas Gerais, no dia 9 de julho de 1878. Filho de José Justiniano Chagas, cafeicultor, e Mariana Cândida Ribeiro de Castro Chagas.
Foi influenciado a seguir a carreira médica por um tio médico. Formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1902. Durante o curso médico, foi influenciado por seu professor Francisco de Paula Fajardo, cientista e pesquisador, nos estudos de doenças tropicais, principalmente malária. Naquela ocasião, para o exercício da medicina era necessário apresentar uma tese médica. Passou, então, a fazer pesquisas no Instituto Soroterápico Federal, àquela época dirigida por Oswaldo Cruz. Aplicou-se à pesquisa a respeito do ciclo evolutivo da malária no sangue. Apresentou, então, sua tese em 1903, intitulada Estudo Hematológico do Impaludismo.
Inicialmente, Chagas trabalhou como clínico geral no Hospital Juruja em Niterói. Posteriormente atuou como médico sanitarista do Instituto Oswaldo Cruz, antigo Instituto Soroterápico Federal. Nessa área da saúde pública, veio a erradicar a malária na cidade de Santos-SP (1905) e em outras regiões próximas. Trabalhou também no combate à leptospirose e às doenças venéreas. Organizou o combate à gripe espanhola no Rio de Janeiro em 1918 e aperfeiçoou o serviço sanitário da cidade em 1919. Por iniciativa do Instituto Oswaldo Cruz, realizou viagens de pesquisas na Amazônia, sobretudo em 1913, tendo em vista o controle de doenças tropicais por motivo de suas interferências no aproveitamento dos recursos naturais da região, especialmente em relação ao desenvolvimento da produção da borracha. Em 1918, criou o Hospital Oswaldo Cruz como centro voltado para as pesquisas do Instituto Oswaldo Cruz.
Como desempenho em atividades do ensino foi professor de Medicina Tropical na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em 1925, o Ministério da Justiça e Negócios Exteriores, por influência de Chagas, criou a especialização em Higiene e Saúde Pública e a cadeira de Doenças Tropicais na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em suas atividades como pesquisador, destacou-se mundialmente ao descobrir, em 1909, o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da tripanossomíase americana, enfermidade que ficou conhecida como doença de Chagas. Por meio de suas investigações, fez a descrição completa do agente patógeno, do vetor (Triatominae), dos hospedeiros, das manifestações clínicas da doença e de sua epidemiologia, uma façanha extraordinária no mundo da pesquisa médica científica. Acrescenta-se também que seus estudos ao lado de suas ações de erradicação da malária serviram de fundamentos para o combate a essa doença em todo o mundo.
Publicou extensos e profundos estudos referentes a medicina tropical como resultado de seu empenho em pesquisa, assistência e ensino nessa área. Sua pesquisa relativa à tripanossomíase americana foi inicialmente comunicada a entidades científicas por meio de uma nota prévia publicada na Revista Brasil-Médico em abril de 1909. Nesse mesmo ano, foi editado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, do Instituto de Manguinhos, seu estudo de modo mais aprofundado e completo a respeito da tripanossomíase americana. Na Europa, havia elevado interesse em doenças tropicais já que estas prejudicavam os trabalhos de desenvolvimento voltados ás regiões tropicais em todo o Planeta. As descobertas de Chagas tiveram, assim, ampla repercussão política e científica no plano mundial. Entre muitos artigos que publicou, destacam-se: Nova Espécie de Tripanossoma Humano, Boletim da Société de Pathologie Exotique, Paris, 1909; Revisão do Ciclo de Vida do Tripanossoma Cruzi, Nota Suplementar, Rio de Janeiro. 1913; Processos Patogênicos da Tripanossomíase Americana, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1916; Tripanossomíase Americana: Estudo do Parasita e Sua Transmissão, The Chicago Medical Recorder, Chicago, 1921; Aspectos Evolutivos do Trypanosoma Cruzi e do Inseto Transmissor, Société Biologique, Paris, 1928.
Em 1911, apresentou os resultados de suas pesquisas à Sociedade de Medicina e Cirurgia de Minas Gerais e à Academia Nacional de Medicina. Em uma Exposição Internacional de Higiene e Demografia, em Dresden, Alemanha, apresentou uma exposição sobre a tripanossomíase, fato que causou grande curiosidade e interesse público. Em 1912, em evento científico ocorrido em São Paulo, apresentou seus estudos realizados em Lassance-MG quando descobriu a causa e o modo de transmissão da doença que hoje tem seu nome.
Em razão de seus méritos e dos esforços exercidos em sua área profissional, ocupou cargos funcionais hierárquicos como Diretor do Instituto Oswaldo Cruz (1917) e Diretor do Serviço de Saúde do Rio de Janeiro (1919).
Tornou-se membro da Academia Nacional de Medicina a partir de 1910. Também foi membro da Société de Patologie Exótique da França, do Physicans Club of Chicago dos Estados Unidos, da Associação Médica Panamericana, da Sociedade de Artes Médicas das Índias Orientais Neerlandesas, da Academia de Medicina de Nova Iorque e de muitas outras instituições nacionais e estrangeiras.
Foi por duas vezes indicado para a outorga do prêmio Nobel. Não houve sucesso tendo em vista fortes e numerosas concorrências à época entre postulantes da Europa e dos Estados Unidos. Acrescenta-se que, no Brasil, houve colegas opositores à sua indicação para o prêmio e, entre estes, houve dúvidas correlatas à existência da doença de Chagas.
Por motivo de infarto veio a falecer em 8 de novembro de 1934, no Rio de Janeiro, aos 55 anos de idade. Deixou um legado histórico de realizações como exemplo de seriedade e proficiência profissional construtivas. Dentre numerosas homenagens recebidas, importa mencionar que foi muito e expressivamente considerado por seus pares no Brasil e no exterior. Foi membro honorário da Academia Brasileira de Letras; doutor honoris causa da Universidade de Harvard e da Universidade de Paris; recebeu o prêmio Schaudinn (1912), outorgado ao melhor estudo em protozoologia e microbiologia e o prêmio Kummel da Universidade de Hamburgo, Alemanha (1925). Uma estátua de Chagas foi erigida no Rio de Janeiro e um município de Minas Gerais tem seu nome.
(Fonte: Moacyr Scliar, http://www.submarino.net/cchagas/liv.htm)